Ouvi essa história durante a preparação para uma vaga de vendedor publicitário em uma editora.
O nosso gerente era um simpático profissional, de uma felicidade doce, densa e enjoativa como xarope pra tosse. Claro, o trabalho no ramo envolve muito mais frustrações que recompensas, então o cara transformou os treinamentos de novos empregados em sessões de autoajuda pontuados por piadas no pior estilo stand up.
Segundo ele, a empresa não vendia só espaços publicitários para pequenos comerciantes, vendia margens de crescimento! As vantagens? Não são indefinidas, mas sim inimagináveis! Oportunidade? Essa é única! Você nunca mais a verá passar! Mas quem sabe eu consiga segurar o preço até amanhã?
“Acorde todo dia com a mesma vontade de trabalhar! Acene para todos no caminho, encare as desventuras com bom humor e nunca, mas nunca deixe de sorrir!”
Ele tinha um chicote esporado com o qual dominava as palavras feito a um bando de ovelhas tremeliquentas. Não sei se era um talento ou uma habilidade adquirida, mas costumava ganhar uma grana extra dando palestras em companhias, simpósios e clubes. Acostumado a ter a plateia na ponta dos dedos, sempre observando as reações e o feeling do público como um bom comediante faria, certo dia percebeu um homem sério que o assistia da primeira fila. O auditório estava lotado e as gargalhadas subiam pelo ar em ondas violentas como o mar de ressaca. O mesmo homem escutava atento a todas as anedotas; fazia anotações vez ou outra e concordava elegantemente com a cabeça. Porém, seu semblante não deixava passar qualquer expressão mais descontraída que fosse. Isso feriu o orgulho do nosso querido gerente que recebeu de si próprio a pequena missão de tirar o tal moço de seu absurdo estado de seriedade. Continuar lendo